terça-feira, 10 de agosto de 2010

"Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento" (Ef 4; 26)



Deus, na sua infinita sabedoria, deu-nos uma santa capacidade de nos irarmos. Ira essa que nos permitisse criar forças para superarmos os nossos vícios e as nossas limitações, para agirmos expressamente em defesa da nossa fé e na luta pela virtude, contra a morte, o pecado e todo tipo de abusos contra o projeto divino. "Vim trazer não a paz, mas a espada". (Mt 10; 34) “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”. (2 Timóteo 4; 7) A fé é um símbolo de contradição com o mundo e exige de nós uma postura de combate.
A ira, no entanto, torna-se um objeto de perdição quando nasce da covardia e deixamos que se transforme em ressentimento. E este nada mais é que uma raiva recordada, uma luta interior sobre uma realidade que não podemos mais mudar, mas que, mesmo assim, nos desgasta com aquilo que é mal, nos enche de medo, desânimo e tira a nossa coragem para o que realmente importa. “Quem odeia seu irmão é assassino”. (I Jo 3; 15) Ódio e vingança sempre serão pecados injustificados e, ainda por cima, ridículos, pelo estrago que causam à vida da pessoa.
Pessoas anormalmente iradas ficam cegas para as consequências de seus atos, são mais fáceis de serem enganadas. Cometem injustiças irreparáveis contra si ou contra o irmão e veem isso uma glória. Uma vez que Satanás não pode fazer nada sem nosso consentimento e sua única arma contra nós é a mentira, a pessoa irada é um excelente instrumento em suas mãos.
O sentimento de raiva acontece sempre que nos tiram das nossas certezas, nos contrariam ou nos revelam nossas mentiras e tocam na nossa vaidade. Pessoas que se irritam com facilidade, que “resolvem seus problemas pelos gritos”, de certa forma têm preguiça de pensar, agir e tentar novas soluções. Evágrio Pôntico diria que “ninguém nos diz a verdade, senão aqueles que jogam sobre nós o descrédito”, em outras palavras, quando sofrermos ofensas saibamos que, por nosso pecado, nunca seremos inteiramente inocentes, e é preciso mansidão para aceitar isso.
“Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. (Mt 11; 29) Deus nos chama a ser corajosamente mansos diante da ira e nos oferece armas contra ela: o perdão; o silêncio e o esquecimento para o mal; a lembrança da nossa morte; salmos imprecatórios (de maldição) dirigidos contra nossos inimigos reais (o pecado, a maldade e os demônios); e a caridade que nasce da oração e pela reconciliação, pela qual oferecemos nosso coração como instrumento de paz.
Fonte: padrepauloricardo.org

terça-feira, 4 de maio de 2010

Gratuidade – “De graça recebei, de graça deveis dar” (Mt 10; 8)


Após escolhê-los e já em contexto de missão, Jesus envia os apóstolos e esta é uma de suas recomendações: “De graça recebei, de graça deveis dar”. Desse modo toda espécie de missão envolve certa gratuidade, na qual Cristo enumera quatro dimensões: “curai doentes, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expulsai demônios”. Perceba que todas elas estão direcionadas a pessoas reais e estão comprometidas com a dignidade, com a identidade, com o ódio à maldade e, por fim, com a salvação. Mediante isso, Cristo pede que nossa caridade tenha um rosto, mãos, pernas, vontades, defeitos, desilusões, lágrimas, que ela não seja somente confiada a instituições filantrópicas (pelo melhor trabalho que façam) ou órgão públicos. É sempre necessária uma caridade de contato humano.
Há quem se perca nas doenças espirituais da avareza e da ganância. Evágrio Pôtico aponta três causas ou motivações para elas: o apego ao prazer (quem acumula, acumula para comprar seu prazer), a vanglória (quem acumula, acumula para demonstrar sua vã onipotência diante de tudo) e a falta de fé (“eu sendo dono de tudo, não preciso dar satisfação a Deus”). Nisso há grande erro: o avarento deposita nas coisas valores que elas não possuem. Há diferença entre os que crescem pra si e os que crescem para Deus e para o próximo.
Seja a sociedade, uma família, uma empresa, uma comunidade em que tudo possui seu preço, tudo é cobrado, tudo é comercializado ou feito mediante exploração, esta é inegavelmente insustentável, nada se mantém, nada dura, tudo está em processo de desperdício lento e gradual. Pelo contrário, pessoas motivadas por fazerem o bem, por melhorarem tudo o que delas depende, pessoas que exalam forte desejo pela qualidade são o mais belo e fiel exemplo de Igreja e de Cristianismo, vivo e honesto.
Paralelo a isso: “o trabalhador tem direito a seu sustento”. A dignidade do trabalho tem duas colunas de sustentação: primeiro ele precisa ser honesto, segundo ele precisa ser devidamente recompensado. Serviços que fazemos de graça e por caridade têm que obrigatoriamente nos tornar pessoas melhores, se não, não são dignos, não são úteis.
Não esqueçamos que, em Deus, tudo é graça. Oração e trabalho juntos têm um poder que muitos desconsideram. Em favor disso, fiquemos com uma tocante frase de São Francisco: “comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.”

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segunda-feira, 19 de abril de 2010

"Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo" (1 Cor 6, 20)



Queria oferecer um texto antigo que fiz com muito carinho:

"Segundo o Catecismo, 'a sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, em sua unidade de corpo e alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e de procriar e, de uma maneira mais geral, à aptidão a criar vínculos de comunhão com os outros.' (§2332) No sentido mais oportuno da palavra, sexualidade é identidade: um 'homem homem' (honesto, corajoso, gentil, visionário, firme...) e uma 'mulher mulher' (atenta, generosa, sensível, afável, cheia de graça...), muitas vezes escondidos, são a mais autêntica e recompensadora expressão sexual.
"Castidade é higiene. A dignidade do homem sempre exige que ele seja movido pela convicção pessoal e não por força de impulsos. A castidade não pode ser confndida com uma cultura de abafamento, vergonha, mas de autodomínio, liberdade interior, que é plantada e colhida durante toda a vida (cf. Gl 6, 8-9).
" 'A juventude não foi feita para o prazer, mas para o desfio.' (Paul Claudel) 'Um homem entregue aos prazeres perde o seu vigor, torna-se efeminado e vive cheio de medo. A mente daquele que segue as paixões baixas é incapaz de qualquer grande esforço'. (Gandhi) Os homens e mulheres que mais contribuiram ára o progresso do ser humano e do mundo, que melhor atingiram o equilíbrio e a lingevidade, foram aqueles que souberam dominar as suas paixões, e, sobretudo, viver a castidade.
"Em situações como o namoro, o mais formidável é promover um olhar de sinceridade para fora, desmascarando necessidades egoístas, tornando a nossa caridade mais madura, mais atenta, mais delicada e nossas relações mais duradouras e completas. Pessoas levam tempo para serem reveladas, são mistérios constantes, não problemas a serem resolvidos. Enquanto objetos são quantidade, forma, gosto, pessoas são qualidade, originalidade, singularidade, surpresas eternas.
"A castidade (pureza), por si só, não é tudo. A castidade desprovida de caridade (consciência de Deus no outro) pode produzir orgulho, ingenuidade, aversão, pudor desordenado, desonestidade para consigo mesmo, esterilidade e burrice emocionais.
"Glorificar a Deus no nosso corpo é não colocar o coração para liquidação, é recusar-se a vender por tão baixo preço aquilo por que Cristo pagou tão caro."

Intenção Pessoal

A minha primeira intenção é abrir caminhos dentro da Palavra de Deus, tentar dialogar sobre assuntos profundos do Cristianismo atual. Reinterpretar conceitos e preconceitos na medida em que haja vínculo com a verdade, sempre. O nome "Actus catitatis" (ato de caridade) já diz a naureza do meui compromisso. E por fim, aprender... Façamos nós bom proveito...